Dia a Dia – Peru 2009


18o dia – Segunda-feira - 19.01.2009: de Puno-PE a Moqueguá-PE


Percurso:
Puno /Ilave /Juli /Zepita /Desaguadero /Pichupichuni /Mazo Cruz /Majada Laitani /Chillihua /Botiflaca /Torata /Moqueguá

Despedimo-nos de Puno, sentindo a umidade do Titikaka e os vilarejos acordando, novamente partimos cedo. A estrada até Desaguadero apresenta altos e baixos. Às vezes lisinha, às vezes com alguns buracos, às vezes com muitos remendos e às vezes sem asfalto (10 km com base preparada e coberta de pó de brita finíssimo).

As casas apresentam um cenário de modernidade, com calfinagem, janelas de vidro e telhados de zinco. Os telhados de palha em casas de barro, praticamente não existem a partir de Puno.

A paisagem começa a ganhar espaço para o deserto e o vale com andenes e plantações foi substituído por montanhas, areia ora branca e solta (parecendo enormes dunas) ora vermelhas e compactas com precipícios imponentes e assustadores.

Antes o que mais víamos eram plantações de quinua, milho e verduras. Aos poucos, fomos observando que a subsistência básica do povo passa da agricultura para a criação de animais tais como porcos, ovelhas e lhamas, principalmente estas.

A reverência à Pachamama é observada em todo o deserto e estradas do Peru e do Chile, com as pedras dispostas em monumento, lembrando a imagem da deusa e protetora da terra.

A neve está cada vez mais perto da estrada e com mais freqüência e com a sua proximidade Eólo fica frenético, pois só abre os sacos de vento muito gelados e velozes. Bem que podia misturar um pouco de ar morno para ficar mais fácil a nossa relação. Hoje, o deus dos ventos acordou com a gente e nos fez dançar quase que a viagem toda. Muitas fotos e filmes foram deletados porque não conseguia manter a máquina firme, meus braços eram jogados para trás, junto com a nossa Bela da Estrada que tentava ficar deitada nas curvas e o danado mostrava quem era mais forte e a erguia dentro das curvas.

Além do Eólo, nossa Bela também ficava pulando nos buracos e desníveis. Assim, não há fotógrafa / cinegrafista que resista, por mais que se esforce, viaje sem luvas e congele suas mãos, a sensibilidade é substituída por registros tremidos e sem nitidez.

Após Desaguadero seguimos rumo a Moqueguá por uma estrada de boa qualidade e rodamos uns 180 km no altiplano com temperatura média de 9 graus centígrados e altitude variando de 4.000 a 4.779 m.s.n.m.

Aqui vamos fazer uma reflexão sobre o que é conviver com a altitude. Para nós que vivemos a menos de 1.000 m de altitude e nem percebemos nossa respiração.

Inspiramos e expiramos sem prestar atenção em nosso sistema respiratório enquanto comemos, trabalhamos, exercitamos, dormimos, enfim, em movimento ou em repouso nada sentimos. Aqui na altitude é que percebemos o quanto precisamos do ar para a nossa sobrevivência.

Precisamos prestar atenção nos movimentos de inspiração/expiração e ajudar nosso pulmão que está pedindo ajuda. Nosso cérebro (faz jus ao título de máquina fantástica) emite os sinais que precisamos de oxigênio e passamos a inspirar profundamente como se estivéssemos relaxando e expirar mais lentamente ainda e, dentro do possível, com a boca fechada, pois a danada seca muito rápido e começa arder e a gente se engasga e começa a tossir. O nariz, então, o tempo todo parece estar sujo, forçamos sua limpeza e descobrimos que é apenas sensação ou sangue. Enfim, os movimentos têm que ser lentos a “la John Woo”, em câmera lenta e compassados com a respiração, porque senão haja taquicardia e pressão na cabeça.

À noite, quando dormimos, relaxamos e esquecemo-nos de ajudar nosso pulmão e acordamos o tempo todo com a boca seca e tossindo, ou, às vezes, com o nariz sangrando. Então, bebemos água e voltamos a dormir; pouco tempo depois dá aquela vontade de ir ao banheiro e recomeça o acorda / dorme. É tudo questão de tempo para aclimatar o nosso corpo, haja vista os nativos respiram e se movimentam com a mesma agilidade e desenvoltura que nós nos movimentamos em nossas casas.

Ontem no passeio em Taquile, aquela caminhada a 4.000 m de altitude sob o sol escaldante, percebemos com clareza as pessoas que chegaram a Puno e foram direto ao passeio e aquelas que já estavam um pouco aclimatadas. É só ouvir, respeitar e ajudar o nosso corpo que não há limite de idade para fazer qualquer passeio. Exemplo vivo, uma senhorinha colombiana entre 65 anos e 70 anos em nosso grupo.

No trecho Desaguadero / Moqueguá não encontramos postos de abastecimento (grifos) e, em Mazo Cruz, abastecemos numa garagem. Colocamos só doze litros para misturar com o que tinha no tanque e não correr o risco de termos problemas. Vimos adesivos de outros motociclistas colados na porta. Que alívio, não somos os únicos. É claro que deixamos o nosso adesivo para atrair mais clientes para el niño que estava abastecendo os veículos.

Ainda, em Mazo Cruz fomos abordados pelas autoridades carreteras, onde o Jota rapidamente desligou o GPS (pois deitou o cabelo da Tana) e mostrou a bela paisagem para sacar las fotos. Tirei a máquina e comecei a sacar fotos da estrada, além de discretamente tirar uma foto deles ao redor da Bela da Estrada. Namoraram nossa Bela, passaram a mão nela e nos deixaram seguir viagem. Ficou a dúvida: o objetivo era somente namorar nossa Bela?

Antes de chegar a Moqueguá descemos de 4.600 m para 1.800 m.s.n.m. no decorrer de 50 km. Haja curva fechada, vento e frio.

Lembram da reflexão sobre a altitude? Pois é, nossa respiração está normal e somente agora é que lembrei que ainda hoje estava concentrada nela e ajudando meu pulmão a oxigenar meu corpo.

Chegamos a Moqueguá às 12h20min, fomos direto para o hotel, descarregamos nossa bagagem e para minha surpresa Jota e sua Bela da Estrada me abandonaram no quarto e foram reconhecer a cidade. Como era horário de almoço, quem teve prioridade? Quem ficou no quarto já confortável e podendo tomar banho? A Bela? É claro que nossa Bela foi abastecida (grifo só no centro da cidade para quem chega de Desaguadero) e colocada em um lugar nobre, quase no nosso quarto. Como só cabiam dois fiquei em dúvida sobre qual das duas dormiria fora. Ufa, que alívio, eu fui à escolhida para dividir o quarto.

Moqueguá é uma cidade de interior, com muitos “sobe e desce”, cuja estrutura é para os próprios moradores. É conhecida como a “terra do pisco”. As casas são bem construídas, pintadas, com jardins cuidados e apenas três restaurantes simples. Os motoristas não buzinam tanto, respeitam sinaleiros e usam as sinaleiras de direção. Ainda bem, assim não podemos mais generalizar que os peruanos são caóticos no trânsito. Os motoristas de Moqueguá podem viajar para outros países que não sofrerão acidente.

Estamos hospedados no Hotel Colonial, o melhor em Moqueguá, três estrelas e situado atrás do estádio de futebol. Está meio decadente, com manutenção precária e lembra hotel de obra. Tem uma arquitetura muito bonita, todos os quartos com sacada e banheira com hidromassagem, mas as cortinas e móveis são meio surrados e o encanamento com ferrugem. A piscina, de 15 x 8 m, continua bonita e limpa, possível de usar.

À tarde um grupo da Coca-Cola estava em reunião, no salão de eventos, apresentando seu planejamento estratégico para um grupo de empregados. Por um relance pensei em assistir um pedacinho da reunião para ter uma percepção da gestão do grupo Coca, mas pensei, deixa prá lá, estou em férias.

Sin lluvia o nieve y muchas placas de despácio, curva peligrosa, foi assim que passamos o nosso dia. Gracias Pachamama, por mais este dia.

Amanhã partiremos rumo ao Chile e pretendemos chegar até Iquique apesar das duas aduanas. Em Iquique faremos um dia de turismo, pois a cidade merece.

DADOS TÉCNICOS:


TEMPOS : EM MOVIMENTO 5h10mi37seg PARADO 42min07seg; TOTAL 5h52min44seg.

VELOCIDADES: MÉDIA EM MOVIMENTO 86,1 km/h; MÉDIA TOTAL 75,6 km/h.

DISTÂNCIAS: DO DIA 465,6 km; ACUMULADA 6.099,6 km.

CONSUMO: PARCIAL 19,48 km/l; ACUMULADO 14,66 km/l; Valores → 6.085,9 km / 414,98 l (somado ida e volta ao grifo).

Música: Green Slevees – Besta Instrumental