Dia a Dia – Pacífico 2004


5º dia: quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004, de Mendoza-AR a Los Penitentes-AR = 195 km rodados em 4 horas e 15 minutos (média de 45,88 km/h)

Percurso: Mendoza/Luján de Cuyo/Uspallata/Los Penitentes

Descansados, às 8h30min partimos rumo ao Aconcágua, maior montanha das Américas e de todo o hemisfério sul, com altitude de 6.962 metros acima do nível médio do mar, sendo superado em altitude somente pelos gigantes do Himalaia, na Ásia Central. A palavra aconcágua na língua quéchua significa A sentinela branca e na língua aymará pode ser traduzido por A sentinela de pedra.

Logo ao sair de Mendonza, avistamos belos picos nevados na direção do Chile. Emocionados paramos e tiramos muitas fotos.

O trecho era curto, mas como a estrada estava em obras, interrompida em vários trechos com desvios de terra, perdemos preciosos minutos. A estrada internacional (Argentina-Chile) atravessa a Cordilheira dos Andes e suas montanhas coloridas (cinza, laranja, rosa, vários tons de verde e de marrom), com os picos nevados são um deleite aos olhos e inspiração aos poetas, de tão forte o visual da natureza e a emoção que provoca nos viajantes.

Fomos conhecer a Puente Del Inca, lugar de incomparável beleza e é considerada uma geoforma única no mundo. É uma ponte natural, sobre o rio Las Cuevas, nos pés do Aconcágua, formada por minerais e microorganismos biológicos. É chamada de Puente Del Inca, porque era utilizada pelos Incas antes da conquista da América. Acredita-se que há milhares de anos se formou uma ponte de gelo e que, após algumas avalanches, as fontes termais e o tempo solidificaram a construção. Conta à lenda que um grande líder inca estava fugindo dos espanhóis e, quando chegou ao rio Las Cuevas, milagrosamente formou-se uma ponte para que ele pudesse atravessar.

Após termos explorado a Puente Del Inca fomos visitar o Cemitério dos Andinistas, onde se encontram objetos pessoais, como botas, luvas, bandeiras, etc., de alpinistas que morreram escalando o Aconcágua. A poucos quilometros de Los Penitentes, a construção funciona como túmulos simbólicos, uma vez que muitos corpos ainda se encontram congelados ou entranhados na montanha gelada em lugares de difícil acesso para resgate, como o brasileiro Mozart Catão, que morreu em 1998. A placa em sua homenagem é muito bonita e diz: “Deus o deixou repousar na montanha, tendo consigo a bandeira congelada de sua pátria. Você e suas conquistas estarão para sempre em nossos corações

Também fizemos um passeio de teleférico até o alto de uma montanha, utilizada como pista de esqui no inverno, de onde pudemos apreciar os picos, com a vista das indescritíveis montanhas da Cordilheira dos Andes. É FAN TÁS TI CO observar a Cordilheira e suas montanhas, refletir sobre a grandiosidade da natureza, sentir a força do vento e a impotência do homem, diante de Pacha Mama.

E para encerrar o dia, fomos conhecer o Parque Provincial do Aconcágua, que abriga glaciares, lagos, importantes sítios arqueológicos e o Cerro Aconcágua, respeitosamente chamado de Senhor das Américas e já abrigou, em seus paredões, uma múmia de 500 anos, a 5.200 m de altitude.

Caminhamos até a Laguna de Horcones, lago que fica cerca de 1 km da entrada do Parque Provincial Aconcágua e de onde se tem a melhor vista da montanha. Tiramos muitas fotos da parte sul da “Sentinela Branca”, dando as boas vindas aos andarilhos e escaladores.

Encontramos vários grupos descendo, alguns muito queimados de sol e frio e poucos chegaram ao cume. As expedições são acompanhadas por mulas, que levam a carga pesada, até mais de 4.000 m de altitude (La Plaza de Mulas). Esses animais muito carregados, vão trotando rapidamente nas trilhas cheias de pedras soltas, onde nós, a pé e devagar, constantemente tropeçamos.

À tardinha o sol vai ficando mais fraco e com ele o frio se torna praticamente insuportável. Enqanto aguardávamos o carro que nos levaria ao hotel, ficamos abrigados em uma barraca dos guarda-parque e lá ouvimos que havia mais de 150 pessoas na montanha, de diversas nacionalidades.

Para subir, por medida de segurança e de controle, todos os alpinistas são registrados e pagam uma taxa. Também recebem uma sacola numerada para lixo – tudo o que sobe, desce – e são multados se deixarem algo para trás. Para as necessidades básicas é obrigatório contratar um “serviço de banheiro”, sob o risco de pagar multa de U$ 100. São mantidos em tempo integral médicos e helicópteros de resgate, sob a administração do exército argentino e a média/ano de alpinistas que não retornam vivos é de quatro mortos e dezenas de feridos e doentes com o mal da altitude – soroche.

À noite jantamos no hotel e lembramos-nos da nossa caminhada no Mont Blanc em 1997. Pessoas do mundo inteiro, muitos deles alpinistas profissionais, alguns tentando se comunicar, outros pensativos e cansados, fazendo sua refeição em silêncio e olhar distante. Estavam tão absortos, como se ainda estivessem na montanha.

O passeio foi inesquecível e à noite, já em nosso apartamento, ainda excitados, fizemos planos para retornar e fazer a trilha até os dois acampamentos base, o acampamento de Confluência e o da Plaza de Mulas. Sonhar é preciso e quase sempre é o primeiro passo da aventura.

Música: Air – Snarkadaktal